Escolher a escola ideal para o Salvador foi uma daquelas fases angustiantes, que a maternidade também traz consigo...
Eu sabia exactamente qual a escola que queria para o meu filho, mas frustrada, não a encontrava em lado nenhum...
Procurava uma escola que não fosse uma escola... procurava um espaço diferente dos que me apareciam pelo caminho. Um lugar onde o Salvador encontrasse aquilo que lhe fazia falta em casa. Um espaço Aberto, onde pudesse brincar com outros meninos, apenas 3 horas, alguns dias por semana, a fim de ir criando uma rotina, que se queria gradual, e não de choque. Numa fase em que, um dia inteiro fora de casa é muito tempo, mas um dia inteiro com a mamã, é "tempo a mais".
Recompus-me e fui à procura de uma que em termos de metodologia se aproximasse o mais possível da nossa. No entanto, as que encontrei situavam-se a uns bons quilómetros de distância, e bloqueamos na indecisão da mudança de residência...
Uma vez que ele ainda não estava em idade escolar, achamos que aguardar mais um ano ajudaria imenso a tomar uma série de decisões. Até lá, actividades como: natação e música para bebés, resolveriam parte do problema.
Enquanto isto acontecia, aqui ao lado, uma pequena casa abandonada há anos, rodeada de um enorme terreno, ia ganhando cor e vida, novamente. Pessoas trabalhavam afincadamente, do nascer ao pôr do sol. Quem por ali passava diariamente, como nós, perguntava-se: o que sairia dali?
Já bem perto do final do verão, um cartaz é erguido, e ficamos a saber que seria um OTL.
Quiz saber mais. Percebi o conceito, e fiquei embriagada. Aquela casinha de bonecas, era só e apenas aquilo que eu tinha desistido de procurar. Aquilo que eu me tinha conformado não existir, e para a qual teria que encontrar, contrariada, uma substituição.
Um lugar despretencioso e simples, fruto do sonho e vontade de uma pessoa, à qual, desejo o maior dos sucessos.
Ali não há brinquedos. Ali há cartão, garrafas e garrafões, rolhas de plástico, folhas e paus secos, à espera de ganhar nova vida. Ali há terra e água, de um furo (protegido), que os meninos podem ver de onde vem. Ali há mangueiras para regar, árvores para trepar, ferramentas de jardinagem, panelas e pratos para cozinhar, o que bem lhes apetecer. Ali não há um programa para seguir. Ali as crianças decidem o que querem ser, ou fazer. Ali as crianças podem brincar na terra, apanhar pedras, sujar-se, correr, saltar. Ali convivem meninos de todas as idades, não estão divididos por escalões etários, (tenho esta crença de que isso cria muitos conflitos. Pela ordem natural, os mais novos adoram aprender com os mais velhos, e os mais velhos desenvolvem capacidades de cuidar dos mais novos - testado e comprovado por mim). Ali as crianças são convidadas a usar o espaço exterior. Ali estão para chegar pintainhos, e logo ao lado há galinhas, galos, cavalos, póneis e ovelhas que terão cordeirinhos brevemente. Ali as crianças plantam a horta e vêm os seus vegetais crescer. Ali não existe um horário fixo, apenas as horas de que necessitamos. Ali ainda não há quase nada, porque tudo o que há para fazer, há-de ser feito com a ajuda, preciosa, das crianças que nela habitam.
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Uma gratidão enorme emana do meu peito, porque o meu desejo se tornou realidade! Estava escrito. O Universo conspirou comigo.
Finalmente tinha encontrado uma "escola" para o Salvador, e aparentemente não havia sido eu a encontra-la, foi antes ela, a vir ao meu encontro.
É completamente errado chamar-lhe escola, não sendo essa a sua designação oficial. Eu sei. Porém, é assim que eu a sinto. Depois de meses à procura de uma, encontrar esta casa encantada, e, chamar-lhe outro nome, torna-se difícil para mim. Pois ela representa tudo aquilo que desejei para o Salvador, nesta fase da sua vida - por isso, aqui só para nós, que ninguém nos ouve, eu vou continuar a chamar-lhe escola, está bem?
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