quarta-feira, 22 de junho de 2016

O meu primeiro jejum :: My first fasting

Viver deste lado do mundo, nesta altura do ano, é muito especial. Junho, foi mês de Ramadan Kareem (Ramadão Generoso). - A época do ano mais importante para os muçulmanos, e da qual eu sabia relativamente pouco.

Muito sucintamente, os muçulmanos fazem jejum do nascer ao pôr do sol, rezam com mais intensidade, abstêm-se de todos os prazeres carnais e são mais generosos para com o seu próximo. Há uma relação muito pessoal e intima com o divino. A sua entrega e motivação pessoal é impressionante.

O jejum é quebrado, em comunidade, com o Iftar. Manda a tradição que seja com 3 tâmaras e um copo de água. É um momento de grande alegria e satisfação, seguindo-se depois, os enormes banquetes de iguarias várias, noite adentro, culminando com o Suhoor, a última refeição, antes do nascer do sol.

Para os não-muçulmanos, aquilo que por aqui se vive nesta época do ano, é essencialmente... estranho. E pode ser até, frustrante, algumas vezes. 

Porém, estando nós, a viver neste mundo tão diferente do nosso, porque não deixar de lado as frustrações de um ocidental, e abraçar a riqueza da cultura local para perceber melhor, como é ser muçulmano, por um dia? 
O desafio que o Hyatt Plaza lançou à população não-muçulmana, no jornal de quarta-feira, atingiu-me como uma flecha. 
Sim. Porque não? 

O evento Fast-a-thon, vai, já na 7ª edição. E por cada inscrição, o Hyatt Plaza, doa 200QR, a um programa educativo para crianças órfãs da Somália.

A minha curiosidade já era significativa, mas quando descobri que ao fazê-lo poderia estar a contribuir para a melhoria de vida de alguém, não necessitei de mais nenhum factor motivacional. Tratei logo de me inscrever a mim, ao marido e à tia, (que está de visita). 

Fiz a minha última refeição, sexta-feira à noite, e só voltei a comer e a beber no Iftar que o Hyatt Plaza preparou, sábado à noite. Foram no total, 21h sem me alimentar e hidratar, (o normal são 16h/17h, mas não nos apeteceu levantar antes do nascer do sol, para o nosso Suhoor).

Os efeitos físicos? Senti-me mais cansada e irritada do que o normal, deitei-me com uma enorme dor de cabeça (mas não sei muito bem, se devido ao jejum ou se ao resultado do jogo Portugal vs Áustria...).
Senti muita falta do meu café da manhã, e só aguentei a sede, porque não saí de casa, para evitar expor-me ao sol/calor. 

Mas em contrapartida, senti um enorme orgulho quando o relógio bateu as 18:30h, naquela tarde. A minha missão estava cumprida. Forcei os meus limites, por uma boa causa. E no final, não tinha sido assim tão difícil, quanto pode parecer. Controlo. É tudo uma questão de controlo. 
Depois quebrar o jejum em comunidade, tem outro significado. Toda a gente tinha um sorriso nos lábios enquanto mastigava as três tâmaras. Conseguimos! Conseguimos! - Pensávamos todos em uníssono.  

Fazer jejum é difícil, requer muito boa vontade. Mas sem dúvida purifica-nos a um certo nível. Pessoas sortudas como nós, sabem que no final do jejum terão abundância de comida e água. É apenas uma questão de horas. Há zonas no mundo, onde essa, não é uma opção. Existe uma enorme gratidão implícita em todo este processo. 
Foi muito bom ter participado neste evento, foi muito bom comungar com os meus Irmãos muçulmanos, e vivênciar aquilo que eles sentem, não existe outra forma de saber, se não se experimentar.
Para o ano, lá estará o meu nome novamente na lista, e talvez cumpra todo o mês do Ramadão.
Sim. Porque não? 

*********************

Living on this side of the world, at this time of year, is very special. June was Ramadan Kareem (Generous Ramadan), this year - The most important time of the year for Muslims, and about which I knew very little.

Very briefly, Muslims fast from sunrise to sunset, pray more intensely, abstain from all carnal pleasures and are more generous to others around them. There is a very intimate and personal relationship between them and the divine. Their personal motivation is impressive to witness.

The fast is broken, in community, with the Iftar. Tradition dictates that it might start with 3 dates and a glass of water. It's a moment of great joy and satisfaction, followed by a huge banquet, with various delicacies, through the night, culminating with the Suhoor, the last meal, before sunrise.

For non-Muslims, what happens here, at this time of the year, is a bit... awkward. And it can even be, frustrating, sometimes.

So when we live in a world so different from ours, why not put aside our Western frustrations, and embrace the richness of the local culture, to get a better inside on how's to be a Muslim, for a day?
The challenge that Hyatt Plaza, launched to the non-Muslim community, on last Wednesday's newspaper, hit me like an arrow.
Yes. Why not?

The charity event, is on its 7th edition. And for each registration, Hyatt Plaza, donated 200QR to encourage orphan children education in Somalia.

My curiosity was significant, but when I discovered that, just by fasting, I could be contributing to the improvement of someone else's life, I did't need any other motivational factor to put my name down, as well as my husband's and aunt, (who is visiting).

I had my last meal, on Friday night, and start eating and drinking again, on Saturday's Iftar, organized by Hyatt Plaza. In total I was fasting for 21h (normal is 16h/17h, but we were too lazy to get up for a snack, before sunrise).

The physical effects? I felt more tired and irritable than usual, I went to bed with a massive headache (but I'm not sure if due to fasting or to the match result between Portugal and Austria...).
I really missed my morning coffee, and only bear thirst, because I haven't left home all day, to avoid sun/heat exposing.

On the other hand, I felt a great pride when the clock struck 18:30h, that afternoon. My mission was accomplished.  I pushed my limits for a good cause. And at the end, it was not so difficult as it might seem. Control. It's all about control.
Then, breaking the fastin community, has a completely different meaning. We all had a smile on our faces, as we savored our three dates. We did it! We did it! - We all thought in unison.

Fasting is fairly difficult. It requires a deep will power. But it surely purifies us in a certain level. Lucky people, like us, know that at the end of the fasting day, there will be plenty of food and water. It's just a matter of hours. 
However, there are areas in the world, where this is not an option. There is a huge gratitude implicit in the whole process.
I'm very pleased with my participation in this event. It was very good to connect with my Muslim brothers and sisters, and experience what they feel, also because there isn't really other way to know, if we don't try it. 
Now, next year I'm planing to put my name down the list, once again, very proudly. And perhaps fast the whole month of Ramadan. 
Yes. Why not?




Pode seguir Sofias's Whispers através:
You can follow Sofias's Whispers on: 

sábado, 18 de junho de 2016

O nosso cantinho de leitura :: Our reading corner

Já podem ler o meu artigo deste mês, para a KIDE Magazine, aqui.
Fiquem a conhecer o nosso cantinho de leitura, e como é fácil, fazerem um também.

***************

You can now read my article, here, for this month's KIDE Magazine.
 I show you our reading corner, and how easy it is to make one for yourselves. 



Pode seguir Sofias's Whispers através:
You can follow Sofias's Whispers on: 

sábado, 28 de maio de 2016

Viva o dia de amanhã :: Hurray for tomorrow's day

{Scroll down for English}

Cinco meses de Qatar. E a vida vai-se, finalmente, ajeitando por aqui. 

Cinco meses a viver no limiar do cinzentão. (Emocional. Não meteorológico!) - Houve dias de puro desespero, em que temi pela minha boa sanidade mental. Juro que sim.
Posso admitir, já estar fora da red zone, e sei, perfeitamente, quem me manteve à superfície: Os livros, minha gente! (Romances, essencialmente).
Se há alguém que possa dizer, com toda a certeza, que os livros são os seus melhores amigos. Esse alguém, sou eu. Simplesmente, porque já fui salva por eles, muitas vezes...
É neles que me refugio nos momentos de angústia. São a única companhia que consigo tolerar (para além do silêncio). Eles têm sempre todas as respostas. E nunca fazem perguntas.

Evadir-me para uma realidade bem longínqua e distinta da minha, parece resultar comigo. 
Ler, ajuda-me a criar distanciamento da origem das minhas penas, assim que, quando regresso novamente a elas, me parecem ligeiramente mais leves.

Ainda bem que me vou cruzando com outras mães, acabadas de chegar, que se sentem de igual forma, desenraizadas e a construir mecanismos internos de adaptação à nova realidade - a partilha de experiências é das melhores coisas do mundo. A união que criam entre as pessoas, também.

Não quero com isto transmitir a ideia, e-r-r-a-d-a, de que esteja infeliz neste pais, emprestado. Nada disso! Muito pelo contrário. Sou infinitamente grata pela oportunidade que a minha família tem, por todas as experiências que nos dá diariamente, pela multi-culturalidade à nossa volta, pelas pessoas que se cruzam no nosso caminho, e que vou conhecendo melhor, todos os dias.
Gosto, antes, de pensar nesta fase inicial, como um custo de oportunidade. 

A realidade dos dias não se alterou, portanto. Ainda requer reajustamentos. Mas a chegada das nossas coisas, representou, indubitavelmente, o momento da mudança, no estado de espírito instalado.
Finalmente, a nossa casa parece-se menos com uma casa, e mais com um lar. A nossa vida parece-se  menos com a vida de campistas, e mais com a nossa.

Aquilo que demorei duas semanas a embalar, montei em 4 dias, completamente obstinada e focada no objectivo. Estava faminta de me sentir eu mesma, novamente. 
A vontade de criar está a regressar, devagarinho. O meu "atelier" já conheceu o seu novo espaço, e está satisfeito com ele; a minha cozinha, já preencheu todos os cantinhos vazios, e já podemos comer os "coaxões da mamã" ao pequeno-almoço.

O Salvador já pode dormir na cama dele e brincar com os seus carrinhos, com as suas pistas, com os seus puzzles e as tão desejadas "pastilinas" - que é como quem diz: Plasticinas.

E este, porém, foi o momento por que mais ansiei: Ver os seus olhinhos brilhar, ao abrir cada uma das suas caixas. Era como se nunca tivesse visto nenhum daqueles brinquedos antes.

Poderão não compreender a dimensão que isto teve para mim, mas, talvez, se vos disser que a última vez que desempacotei a minha "casa", tive que enfrentar um berço vazio, roupas que nunca puderam ser usadas, e por aí fora... eventualmente, compreendam que poderá, muito bem, ter sido um ajuste de contas com o passado... Desta vez, deu-me, realmente, um prazer desmesurado.

Viva o dia de amanhã! - Até porque, curiosamente, é o meu aniversário.

***************

Five months of Qatar, and life is finally settling.

Five months living in grey tons. - There were days of pure desperation, in which I feared for my good mental sanity. I swear it to you.
I can, now, admit, to be out of the red zone, and know, exactly, what kept me at surface: Books, folks! (Romances, essentially).
If there's anyone out there, who can say that books are our best friends, that would be me. Simply, because I was saved by them many times...
In times of distress, it's in the books, that I refuge myself. They're the only company that I can tolerate (apart from the silence). They, always, have all the answers. And they never ask questions.

Evading myself to a very distant and different reality from mine, appears to work for me.
Reading helps me creating distance from the origin of my pains, so that, when I return to them again, they seem slightly lighter.

I'm glad I meet some other moms, freshly arrived to the country, that feel the same way, uproot and building intern mechanisms to adapt to the new reality - the sharing of experiences is the best thing in the world. The union it creates between people, too.

This is not to convey the w-r-o-n-g idea, that I'm unhappy in this, borrowed, country. Not at all! Quite the opposite, actually. I am infinitely grateful for the opportunity that my family is having, for all  the experiences it gives us daily, for the multi-culturality around us and the people who crosses our path, and I get to know better, every day.
Instead, I like to think about this initial stage as an opportunity cost.

The reality of the days hasn't, then, changed much. It still requires readjustments. But the arrival of our belongings, represented, undoubtedly, a change in the installed state of mind. Finally, our house looks less like a house, and more like a home. And our life, seems less a camper's life, and more our own.

What took me two weeks to pack, I set up in four days. Completely focused on the goal. I was so hungry to feel myself again.
The desire to create is, slowly, returning. My "studio" met his new space, and is satisfied with it; my kitchen has already filled the empty corners, and we can now eat "Mummy's coaxões" for breakfast.

Salvador can now sleep in his bed and play with his cars, his tracks, his puzzles and the much desired "pastilinas" - that is to say: Play-doh.

And this, however, was the moment I yearned the most: Watch his little eyes shine, opening each of his boxes. It was like he had never seen any of those toys before.

You might not come to understand the scale that this event had on me, but perhaps if I tell you that the last time I unpacked my "home", I had to face an empty crib, clothes that had never being used, and so on... and then you can, eventually, understand that this may well have been a settling of accounts with the past... This time, gave me an, indescribable, pleasure.

Hurray for tomorrow´s day! - Because, oddly enough, it is my birthday.


Font IFont II

Pode seguir Sofias's Whispers através:
You can follow Sofias's Whispers on: 





sábado, 21 de maio de 2016

Sofia's Whispers na Kide Magazine :: Sofia's Whispers in Kide Magazine

{Scroll down for English}

Quando o N me convidou para escrever um artigo, mensalmente, para a Kide Magazine, a minha primeira reacção foi pensar que se tinha enganado no número. 

Uma plataforma de kids fashion? De certeza? - Se há território, absolutamente, inexplorado no Sofia's Whispers é o mundo da moda! 

Rapidamente o N me garantiu não estar enganado, coisíssima nenhuma, e tratou de me explicar o projecto, tim-tim-por-tim-tim.
Eu escreveria, afinal, para a coluna Living.
(Fewww... Podia respirar de alívio...)

Não havia como dizer "não" a este desafio, e a minha segunda reacção, foi sentir-me grata pela consideração desta simpática equipa. 

O primeiro artigo já está live, aqui.
Podem, também, conhecer as demais autoras, e respectivas colunas, aqui

Ora bem, apesar de eu não dominar, particularmente, bem o mundo da moda, é facto que sei , exactamente, aquilo de que gosto - especialmente, se se trata de escolher roupa para o Salvador - 
Identifico-me com o clássico intemporal. Cores neutras. 
As propostas da KIDE, foram portanto, uma muito agradável descoberta. Pois reúne numa só plataforma, uma seleção de pequenas marcas de designers independentes, que oferecem artigos trendy a preços justos. A seleção das marcas tem sempre em atenção três princípios básicos: qualidade, design e práticas sustentáveis de produção
Gosto muito de saber que a Kide, reúne peças de que gosto de vestir ao meu filho, mas gosto também de saber que existe uma preocupação em ajudar as marcas e designers locais, a crescer de forma sustentável e consciente.
Adicionalmente, é bom saber que se pode comprar online, em qualquer parte do mundo.

Muito obrigada por esta parceria, NP. Grata.

**********************

When N invited me to write a monthly article for Kide Magazine, my first reaction was: "He must have got the wrong number".

A kids fashion platform? Is this for real? - If is there an, absolutely, unexplored territory in Sofia's Whispers, this would be the fashion world! What do I know about fashion? 

N quickly explained the project to me, and assured me that he wasn't mistaken. He wanted me to write for their Living column. 
(Fewww... I could live with that...)

There was no way to say "no" to this challenge, and my second reaction, was to feel grateful for this opportunity.

The first article is already live here
You can also know the other authors, and their columns, here.

Well, although I don't know much about the fashion world, it is a fact that I know, exactly, what I do like. (Particularly if it comes to choosing clothes for Salvador). I identify myself with a timeless classic style. Neutral colors.

KIDE's proposals, were therefore, a very nice discovery. As it gathers in a single platform a selection of small independent brands of designers, that offer trendy items at fair prices. The selection of brands always have in mind three basic principles: quality, design and sustainable production practices.
I like to know that Kide stocks pieces that I'd like to dress my son on, but I also like to aknowledge that there's a mindful concern in helping brands and local designers to grow sustainably.

Additionally, it is likewise good to know that you can buy online, anywhere in the world.

Dear NP, thank you so very much for this partnership. 


Pode seguir Sofias's Whispers através:
You can follow Sofias's Whispers on: 

terça-feira, 10 de maio de 2016

Meet Bonnie and Clyde

{Scroll down for English}

A vida por aqui ainda não estabilizou, e eu, naturalmente, sofro, emocionalmente, as consequências disso... Esta aventura pelas arábias, ainda me tem, completamente, desatinada e com sensações de falta de ar. Mas é nos momentos mais inesperados que acontecem as coisas mais fascinantes... 

Há 5 semanas atrás, um vizinho encontrou estas duas, amorosas, criaturas... no caixote do lixo. Ainda não abriam os olhos...
Cuidou delas carinhosamente e lançou um apelo à comunidade local.
Quando lhes pus os olhos em cima, soube, imediatamente, que tinha que estar envolvida no resgate - a gata era simplesmente igual à nossa, querida, Micas - infelizmente, desaparecida há cerca de um ano - não tinha, portanto, como ficar indiferente...

A Bonnie e o Clyde fazem, agora, parte da nossa família. As suas brincadeiras toscas e o seu ronronar amoroso, fazem as nossas delícias diárias.
O Clyde é tão charmoso, que o meu vizinho vai acabar por o adoptar, caso não encontre um lar, que o queira acolher.

Quando chegamos a casa, a primeira coisa que o Salvador faz, é procurar as minúsculas mascotes. - "Oh gatinhos lindos e fofinhos! Venham cá."- Pobres coitados, fogem dele a sete pés, mas por algum, inexplicável, motivo, não ousam arranha-lo, como fazem conosco.

Oh! Que casualidade tão boa! Hora certa, momento certo. Como podem, dois gatinhos indefesos, trazer tanta alegria a uma casa?

***********************

Life around here has not stabilized yet, and I'm, obviously, suffering the emotional consequences of it... This Arabian adventure has still got me completely disoriented and breathless. But it is in the most unexpected moments, that the most fascinating things happen...

Five weeks ago, my neighbor found these two, loving, creatures... in the trash. They wouldn't opened their eyes yet...
He's foster them, and launched an appeal to the local community. 
When I, first, put my eyes on them, immediately, knew I'd to be involved in the rescue plan - I mean, how couldn't I be? The female kitten just looked like, our dear, Micas - unfortunately gone missing for about a year, now.

Bonnie and Clyde, became part of our family. 
They're so cute playing. It's, simply, a delight to watch. Their purr, daily, melt our hearts.
Clyde is so charming, that my neighbor didn't resist adopting him, in case we can't find a suitable home for him.

When we get home, the first thing Salvador does is to look for the kittens. - "Oh! Beautiful kittens. Come here."- Poor little ones, they hide everywhere, from him, but for some, inexplicable, reason, they don't seam to scratch him, as they do with us.

Oh! What a good coincidence! Right time, right place. 
How come two, helpless, little kittens, bring so much joy to a home? 


Pode seguir Sofias's Whispers através:
You can follow Sofias's Whispers on: 

quarta-feira, 27 de abril de 2016

O meu pequeno tributo, a ti, avózinha :: My little tribute to you, dear Grannie.

{Scroll down for English}

Apesar das, inacreditáveis, melhorias que foste mostrando, ao longo das últimas 4 semanas, bem cá no fundo, eu sabia que a nossa despedida tinha sido a última.
Eu sabia que não estarias mais aí, quando eu regressasse...

A minha garganta está seca. A minha cabeça aturdida. Os meus sentidos, definitivamente, adormecidos.
Enquanto escrevo este pequeno tributo a ti, querida avózinha. Fecho os olhos e imagino todo o cenário que te rodeia, neste momento. E... O facto de não fazer parte dele... pela última vez, é angustiante.

7,387 km separam-me de ti, querida avózinha, e do teu corpo, agora frio e sem vida...

Uma vida, outrora, cheia de trabalho. Sete filhos. Sete netos. 
Há quem diga que, o sete, é um número de sorte. Será avózinha? 

Sempre te conheci com rugas, mas sem cabelos brancos.
Sempre me lembro de tomares medicamentos, para alguma coisa.
Gostavas de comer de pé. Comer sentada, era para dias de festa
Gostavas de fazer crochet - e um considerável número de peças de arte sairam das tuas, ávidas, mãos.
Querias ser invisível, não querias dar trabalho aos teus filhos. E assim foi, enquanto não tiveste outra opção...
Não eras uma pessoa de riso fácil, mas todos sabemos, lá em casa, o que sempre te arrancava uma boa gargalhada... :)

Eras a minha paragem obrigatória à saída da escola. De vez em quando, tinhas um pudim flan, (dos velhotes),  à minha espera, naqueles pequenos copinhos, que mais ninguém tinha igual...
Obrigavas-me a ir ao terço, nas férias do verão. 
Sempre que fazias lentilhas, guardavas um prato para mim (ninguém, até hoje, me conseguiu fazer lentilhas como as tuas! E sopas de ovos? As tuas serão, para sempre, as melhores!)

Também é verdade que tinhas "mau feitio". Mas facilmente qualquer pessoa percebia, que tinhas o melhor coração do mundo. E quanto a esse reconhecido "mau feitio, tão característico teu... é o que, curiosamente, mais saudades nos vai deixar...

Contigo aprendi que do pouco se consegue fazer muito. Que do velho, se pode voltar a fazer novo.
"Guarda o que não presta, e, terás o que precisas", lembro-me.

"É preciso aprender a fazer de tudo, minha filha" - dizias-me tu, infindáveis vezes, - "nunca se sabe, quando te vai dar jeito." - E esta, sem saberes, foi, simplesmente, a melhor lição de vida, que me deixaste...

Nunca foste uma pessoa, extraordinariamente doce, a vida, simplesmente, nunca to permitiu...
Encaraste os teus dias como se de uma batalha se tratasse. A força, sempre foi o teu melhor aliado.

Sobreviveste à fome. Sobreviveste ao frio. Sobreviveste, a longas horas, de árduo trabalho. No verão, ao "esturreiro" do sol, (como tu dizias), no inverno, debaixo das "moscas brancas", (como tu dizias, também). 
Remendaste muita roupa. Secaste outra tanta, ao calor da lareira, para vestir no dia seguinte. 
Grávida ou não, o dia começava, sempre, antes do sol nascer, e terminava, sempre, ao pôr do sol. 
Sobreviveste à perda de 3 filhas, duas delas, antes dos seus três anos e meio de idade - no silêncio do teu olhar, soube que foste das únicas pessoas, que me compreendeu visceralmente).   

Viste partir de casa, sempre com coragem, cada um dos teus filhos. 
O teu ninho ficou vazio.
Não sei como lidavas com isso, à noite, deitada na tua almofada. Mas sei que rezavas. Sei que te confortavas com a esperança de que o Senhor olharia pelas tuas crias no teu lugar, nas suas aventuras e desventuras.

Nunca foste um livro aberto. Foste um livro que aprendi a desfolhar. 
Senti, por ti, muitas coisas diferentes, ao longo dos anos. Das quais, hoje, ficam acima de tudo: A admiração. E a certeza de que somos muito mais uma da outra, do que aquilo que alguma de nós pode imaginar. 
Estás inscrita em mim, no meu ADN, nas minhas memórias, nas memórias que vou querer perdurar, através da geração futura. Eu sou, sem ter consciência disso, o resultado de muitas das tuas vivências. Estás comigo hoje, como estiveste ontem, e estarás para todo o meu sempre.

Hoje descansas esse teu corpo cansado, massacrado, tão cheio de tudo aquilo que tinhas reservado para ti. 
Uma vida cheia, uma vida, verdadeiramente, cheia. 
Uma vida que nos deixa, agora,  esta imensa saudade e vazio. 
Uma vida que fecha, porém, o seu capítulo com sentido de missão cumprida. 

Recebe, querida avózinha, à entrada desse jardim celestial, o maior, e o mais sentido abraço de gratidão, desta tua neta, que te ama daqui até à lua, e da lua até aqui.

E uma vénia.
Sim. Uma vénia!
Porque foste uma Rainha! Um autêntico farol, nas nossas vidas.

Até sempre, querida avó.
Sofia

******************************

Despite the, unbelievable, improvements that you were showing, over the past four weeks, deep inside, I knew that our goodbye was to be the last.
I knew you wouldn't be there anymore for my return...

My throat is dry. My head dazed. My senses, definitely,  numb...
As I write this little tribute to you, dear granny, I close my eyes and imagine all the scenery around you right now. And... The fact that I'm no part of it... this last time. Is consuming.

7.387 km separate me from you, dear Grannie, and from your body, now cold and lifeless ...

A life, once, full of hard work. Seven children. Seven grandchildren.
Some people say that seven is a lucky number. Is it Grannie?

I've always known you with wrinkles. But none gray hair.
I always remember you taking some kind of medication, for some kind of pain.
You've always liked to have your meals standing - sitting was for festivity days.
You loved crochet - and a great number of art pieces, have, your avid hands, done.
You'd like to be invisible. Didn't want to bother your children, and so it was, until you're left with no other option...

You weren't an easy laugh person, but we all know, at home, what would, always, make erupt a great laugh out of you... :)

Your house was my mandatory first stop, when getting back home after school. Occasionally, you'd have a flan pudding, waiting for me on those tinny cups, that no one else had the same...
You'd forced me to go to chaplet mass everyday of my summer holidays.
Whenever you'd cook lentils, you'd always have a spare dish for me (no one, to this day, managed to cook lentils for me like you did! The same for your delicious egg and bread soup. Yours, will be forever and ever, the best!)

It's also true that you had a "bad temper". But anyone could easily realize you owned the biggest heart in the whole wide world. And regarding to that, well known and characteristic "bad temper, funny it is, that's exactly what we'll miss the most about you.

From you, I learned that from less, one can do much. From old, we can make new, again.
"Keep the damaged, and you'll find what you need," I remember you saying.

"You should learn how to do a little of everything, my dear " - you told me countless times - "you never know when it will be of use" - And this, without knowing, has simply been the best life lesson, you left me...

You've never been an, extraordinarily, sweet person. Life, simply, never allowed you to...
You faced your days as if they're a battle field. Your strength has always been your best ally.

Survived hunger. Survived cold. Survived long hours of hard work.
Mend many clothes. Dried so many others, for next day wear, in the warmth of the fireplace.
Pregnant or not, your day always began before sunrise, and always ended at sunset.
Survived the loss of three daughters, two of them, before they were three and a half years - in the silence of your eyes, I knew you were one of the few people who understood me viscerally).

You've seen your ducklings leave home, always with courage.
Your nest was empty.
I don't know how you've dealt with that at night, when resting your head on your pillow. But I know that your sleep was always induced by lots of prayers. I know this ritual filled you up of hope, hope,  that the Lord would look after your ducklings, on your absence. 

You've never been an open book. You've been a book I learned to leaf through.
I felt for you many different things, over the years. Which today are above all: Admiration. And the certainty that we are much more of each other than what any of us can imagine.
You're inscribed on me, in my DNA, in my memories, the memories that I want to keep on through future generation. I am, without being aware of it, the result of many of your experiences. You are with me today, as you were yesterday, and will be for the rest of the time I shall live.

Today, you rest that tired, and massacred, body of yours, so full of everything you had reserved for you...
full life, that leaves us with this immense longing and emptiness.
But a life that ceases its chapter, with a sense of accomplishment.

Receive, dear grannie, in that heavenly garden, the most tight hug of all, full of gratitude, from this  granddaughter of yours, who loves you from here to the moon and back.

And a bow.
Yes. A bow!
Because you were a Queen! A true lighthouse in our lives.

Until we see each other again, dear grannie.
Sofia



Pode seguir Sofias's Whispers através:
You can follow Sofias's Whispers on: 

sexta-feira, 25 de março de 2016

Páscoa Feliz! :: Happy Easter


Font

A todos, uma Páscoa Feliz!

To all, Happy Easter!


Pode seguir Sofias's Whispers através:
You can follow Sofias's Whispers on: 


sábado, 27 de fevereiro de 2016

Finding Home

{Scroll down for English}

Um mês de Qatar. O cheiro de uma casa nova - aquela que nos escolheu.
Vista deslumbrante, localização top, muita expectativa. 
Infindáveis projectos, a fervilhar na minha cabeça - seja a estância suficientemente longa, para mos permitir concretizar... 

Primeira noite neste novo ninho. 
Poucos pertences. Apenas os essenciais.

A melhor noite de todas, a primeira em que me sinto... em CASA.

***************************

One month in Qatar. The smell of a new house.
Stunning views, top location, many expectations.
Endless project ideas, floating in my head - may our stay be sufficiently long, to allow me to accomplish them all...

First night in this nest.
Few belongings, only the essentials.

The best night of all, the first I feel... at HOME.

Font 
Pode seguir Sofias's Whispers através:
You can follow Sofias's Whispers on: 


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Sim, sim, pois, pois... :: Yes, yes, of course...

{Scroll down for English}

"Eles adaptam-se rápido." "São que nem esponjas." - É o que toda a gente diz.

Pois eu mal posso esperar, por esse derradeiro momento, para ver o meu filho sentir-se "integrado".

Leva tempo. Eu sei. Todos sabemos. Mas bolas! No que toca à felicidade e bem estar dele, quero tudo para ontem.

Cada rejeição, cada tentativa falhada, cada pesadelo, cada frustração com que se depara, dói como não outra.
E estar sempre por perto para abraçar, para amenizar, para confortar, é tudo o que posso fazer...     

Cá dentro as emoções a fervilhar, desejando que não tivesse que passar por nada disto. Pronta para comprar, a que preço fosse, o valor da amizade, só pelo prazer de ouvir, a sua gargalhada sincera.

Mas ter que dar ouvidos à razão, e compreender que é um caminho solitário que terá que percorrer sozinho. Acreditar que os amigos certos surgirão, ele saberá escolhe-los - para esses a barreira linguística não será um obstáculo.
Esta experiência vai transforma-lo, vai torna-lo mais forte. 
Ele, que é ainda tão pequenino. 
(Para sempre, o meu bebé).

****************************

"They adapt pretty quickly." "They are like sponges" - It's what everybody says.

Well, I cannot wait for that beloved moment to happen, to see my son feeling "integrated" somehow.

It takes time. I know. We all know it alright. But regarding the happiness and well being of my sweet and darling son, I would like everything to happen just yesterday.

Every rejection, every failed attempt, every nightmare, every frustration, hurts like no other.
And the only thing I can do, is being around him to hug, to soothe, to comfort...

Inside, emotions simmering, wishing he didn't have to go through any of this, ready to buy, at any price, the value of friendship, just for the pleasure of hearing his sincere laugh.

But having to listen to Mr. Reason, understanding that this will be a lonely path, he'll have to walk by himself. Believing that the right friends will come, he will notice them immediately - for those the language barrier won't be an obstacle. 
This whole experience will transform him, will make him possibly a stronger person.
He, who is still so small.
(Forever my baby).



Pode seguir Sofias's Whispers através:
You can follow Sofias's Whispers on: 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Diferenças culturais :: Cultural differences

{Scroll down for English}

E assim de repente já se passaram 2 semanas desde a nossa chegada ao Qatar.

Depois dos primeiros dias em que me senti meio desorientada, posso dizer que começo agora a segunda fase da minha adaptação, aquela em que os nomes estranhos de que toda a gente falava já têm uma cara, uma localização, um aspecto e um cheiro. 
Tenho visitado todos "os cantos à casa" e posso dizer que no geral, gosto do que vejo. 
As obras atrapalham um pouco as vistas para onde quer que se vá, mas já me consigo abstrair delas. 

Entretanto vou-me apercebendo, observando e registando algumas curiosidades com a mente aberta, que não se pode ter a pretensão de ir viver para o país de outrem, sem procurar sentir um profundo respeito pela sua cultura!
Dito isto, há porém algo que me tira um pouco do sério: a falta de respeito!  Ou melhor, aquilo a que eu estou habituada a identificar como tal, e que aqui terei que passar a identificar como: diferença cultural.
Estar numa fila para levar o meu filho à casa de banho, por exemplo, e entretanto a norma local ser a do first come, first serve. Ou à espera de um lugar para estacionar há 10 mins e aparecer outro condutor de nenhures e enfiar-se lá, sem qualquer remorso no coração, porque tinha feito um agreement gestual com o que saia... Grrrr

*********************

And all in a sudden it's already been two weeks since our arrival in Qatar.

After the first few days that I felt completely disoriented, I can say that now begins the second phase of my adaptation process. All the strange names on everyone else's mouths have now a visual location,  aspect and smell.
I've visited all "corners of the house" and can say that, overall, I like what I see.
The intensive works bother the views anywhere we go, but I, already, can abstract from them.

Meanwhile I'm observing and taking notes of some of the local facts, with an open mind. You cannot intend to move to someone else's country, without seeking to feel a deep respect for their own culture!
Having said that, is there, however, something that seriously makes my blood boil: the lack of respect! Well, at least what I'm used to identify as such, and here will have to identify as: cultural differences.
Be in line to take my son to the bathroom, for instance, and the local rule be: First come, first serve... Or, patiently, be waiting for a place to park the car, and see another driver, coming from nowhere, taking our place, without any remorse in his heart, because he'd made a sign agreement with the previous user... Grrrr


Pode seguir Sofias's Whispers através:
You can follow Sofias's Whispers on: 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

As Pérolas :: The Pearls

{Scroll down for English}

Muito antes da descoberta do petróleo, nos anos 40, e das reservas de gas natural, que sustentam as exuberâncias e estilo de vida dos qataris, existiam as pérolas.
Foi o mercado das famosas pérolas do Golfo Pérsico, que alimentou os sonhos dos habitantes desta região durante décadas. 

Quando caminho pelas apertadas ruelas do Souq, não consigo deixar de imaginar como seriam aquelas mesmas ruelas, no tempo em que se negociava a chegada das pérolas. 


*******************

Long before, oil discovery, in the forties, and natural gas reserves, that sustain the exuberance of the Qatari's lifestyle, there were the pearls.
The trade of the famous pearls from the Persian Gulf, fed the dreams of the inhabitants of this region, for decades.

When I walk through the Souq's narrow streets, I can't help myself wondering about those same streets at the time of the pearls' arrival to the shore and the crazy negotiations that might have occurred in there. 




As pérolas são tão queridas para os qataris, que estes, decidiram fazer uma ilha artificial com forma de conchas, a que chamaram The Pearl. É a zona mais ocidentalizada da região, e a preferida pelos expatriados para morar. 


************

Pearls are so dear to the Qataris, that they've decided to build an artificial island, shell shape, which they named The Pearl. It is the most Westernized part of the region, and one of the preferred by expats to live.


Fonte
As bonitas e delicadas pérolas são o resultado da defesa da ostra a um corpo estranho, como um grão de areia. Quando fiz esta descoberta, há algum tempo atrás, fiquei mesmo fascinada. Quer isto dizer que perante a adversidade, a ostra  cria qualquer coisa de maravilhoso, bonito, perene e valioso - uma pedra preciosa! 

Assim de repente, ocorre-me uma bela analogia, e a vós? 

************

Beautiful and delicate pearls are the result of the oyster's defense to a foreign body, like a grain of sand. When I made this discovery, some time ago, I was really fascinated. This means that in the face of an adversity, the oyster creates something wonderful, beautiful, lasting and valuable - a gem!

Suddenly occurs to me a beautiful analogy, what about you?


Pode seguir Sofias's Whispers através:
You can follow Sofias's Whispers on: 

sábado, 6 de fevereiro de 2016

O Souq

Os minhas últimas duas tardes foram passadas no Souq Waqif, o tradicional mercado de Doha. Sem sombra de dúvida, o meu local favorito até agora.

Num país que se está a construir do zero, sabe bem um pouco desta autenticidade e carácter.
Para nós europeus, faz muito sentido saber de onde viemos e sentir o peso da história a caminhar ao nosso lado. Nunca antes tinha pensado sobre isto, porque nunca antes tinha vivido num sítio assim. 

No Souq podemos encontrar de tudo um pouco, desde cafés e restaurantes, a tecidos, roupa tradicional,  jóias, artesanato, especiarias (ao kilo), animais, materiais de jardinagem, etc. 

A minha primeira e única experiência num Souq árabe, foi em Marrakech, mas gostei muito mais deste porque os vendedores não são tão insistentes. Abordavam-me, é facto,  mas de uma forma muito mais subtil, o que torna a experiência muito mais agradável.

É um sitio verdadeiramente encantador para ir com o Salvador pois está cheio de cores e cheiros diferentes, ali, ele tem muito com que se entreter e pode andar à vontade pois não passam carros. O único desafio é mesmo não o perder de vista...

Para primeira experiência, os ávidos comerciantes de barba branca conseguiram vender-me um saco de amendoins, que o meu petiz namorava, pelo dobro do valor e ainda por cima intragáveis... 
Ainda acreditei que por aqui fosse prática venderem-se amendoins "verdes", por isso mal cheguei a casa coloquei-os no forno para os tostar e eventualmente melhorar-lhes o sabor,  mas não. Os danados eram mesmo, mesmo intragáveis...
Se fiquei furiosa? Nem por isso... Faz parte da experiência do Souq.









Pode seguir Sofias's Whispers através:
You can follow Sofias's Whispers on: 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Primeira semana em Doha

Fez ontem uma semana que chegamos a Doha. 
A viagem correu bem, talvez se tivéssemos optado pelo voo diurno a experiência fosse um pouquinho melhor, pois teríamos conseguido dormir.
Mas tirando isso, e uns inesperados vômitos do Salvador, chegamos inteirinhos.

As mudanças não são novidade para mim, (muito menos para o Carlos), já passei por 4, todas elas na nossa velha Europa, e todas elas com os seus períodos de adaptação respectivos.
E para que não pensem que isto é sempre canja e muitos folhos, vou procurar mostrar as várias fases da lua.

1. Os meus primeiros 3 dias foram de uma ligeira depressão, uma sensação de profundo desenraizamento. O Qatar é um país desenvolvido no Médio Oriente, mas está a quilómetros de distância daquilo a que os meus olhos estavam habituados a ver, os meus ouvidos a ouvir, os meus pulmões a respirar, os meus sentidos a sentir.
O Carlos mostrava-me tudo aquilo que eu deveria saber para o meu dia-a-dia. A minha cabeça fervilhava com tantos processamentos, sítios novos, nomes difíceis de dizer (e memorizar), a dada altura dizia que sim a tudo, mas no dia seguinte não me lembrava de nada...

2. Tudo está a ser construído de raiz por aqui, para qualquer parte que se vá, para qualquer lugar que se olhe, há construção! 
Mega projectos de estradas, condomínios, novas áreas residenciais projectadas do zero, prédios de arquitectura modernista, metros, shoppings, túneis, estádios, parques, museus... 
O pó, o barulho, o trânsito devido a vias cortadas e a semáforos de espera demasiado longa, são portanto inevitáveis, ganhando uma proporção macro no meu caso, pois nos últimos tempos estava habituada a uma vida mais pacata, numa vila pequena onde respirava ar puro e podia fazer tudo a pé ou de bicicleta.
Tudo isto foi absolutamente maravilhoso numa fase muito particular da minha vida, mas agora tive que ligar o acelerador e estou a habituar-me ao novo ritmo.

3. A compreensão do inglês que se fala por estes lados envergonha-me, grande parte dos trabalhadores são indianos, paquistaneses, filipinos... e eu não os entendo de forma alguma.
Peço educadamente para repetirem, 1, 2, 3, 4, 5 vezes, e a partir daqui envergonho-me, abano a cabeça, dizendo que percebi, quando na verdade não percebi nada...

5. Acordar de manhã sem um propósito especial, sem ter as minhas rotinas, as minhas coisas por perto, os meus lugares... e um rapazinho exigente - também ele em adaptação - e com necessidades prementes colado a mim 24h/dia, é avassalador.
Ele tem sido o melhor dos meninos, mas também se tem mostrado mais desafiante do que o normal, aprender a lidar com a frustração de não conseguir fazer algo que já fazia bem, como por exemplo comunicar, é algo difícil para ele. Ao mesmo tempo o meu nível de paciência também não está no seu melhor, por isso não tenho sido a melhor mãe estes dias...

Se gosto de aqui estar? É o que todos me perguntam.
Adoro saber que estamos todos juntos, que vamos todos viver algo único, marcante e inesquecível mas ter "o meu espaço" bem definido é essencial para o meu equilíbrio, por isso vou gostar muito mais quando encontrarmos a casa certa para nós e trouxermos as nossas coisas.
Viver em hotéis de forma prolongada é "estranho", e é estranho porque não consigo encontrar uma palavra mais adequada para o definir. É sentir que se tem a vida em standby, é sentir que se está à espera de alguma coisa que nunca mais chega, é viver em ansiedade e deixar passar os momentos especiais no meio dessa pausa, e disso eu não gosto, e isso, a parte consciente que habita em mim, não tem tido a capacidade de travar.

Estes estados de espirito não se devem reprimir, sentem-se, vivem-se e existem em nós, e não vale a pena omiti-los, sei por experiência própria, que fazem parte do processo de adaptação, porém também sei que não se podem alimentar durante muito tempo sob pena de tomarem totalmente conta de nós. Por isso ao 3º dia renasci, e decidi que estava na hora de explorar as novas possibilidades com o coração aberto.

E possibilidades é o que por aqui não falta. Com uma comunidade de expatriados que ronda os 80% dos habitantes do Qatar, existem 1001 coisas para explorar.
Felizmente o nível de vida da comunidade expatriada permite um acesso mais facilitado a coisas, locais e pessoas, mais longínquos nos seus países de origem.
A vida social que tive nesta última semana foi garantidamente superior à que teria em Portugal em 2 meses inteiros. Já deu para perceber que os convites aqui chegam de todas as partes e todos os dias.

O sentido de comunidade é espantoso, todos deixamos para trás família, casa e amigos, por isso todos temos as mesmas necessidades - encontrar novos amigos - para nós e para os nossos filhos - fazer deles a nossa família emprestada.
Ouvir todas as dicas de quem já cá está há mais tempo. Ir conhecendo os cantos e recantos da cidade, através dos olhos deles, para depois filtrar com os nossos.

Doha, obrigada por nos acolheres.
Com as dificuldades e facilidades com que te vamos percorrer, estamos ansiosos por te conhecer melhor.


Pode seguir Sofias's Whispers através:
You can follow Sofias's Whispers on: 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O 3º Aniversário

Antes desta grande aventura começar, festejamos o 3º aniversário do Salvador - que não quero deixar de registar neste meu cantinho virtual, por nada deste mundo.

O aniversário sem prenda(não valeu de muito sublinhar no convite), aconteceu há uma semana atrás, e foi... M Á G I C O.

O primeiro aniversário é sempre aquele mais ansiado, pelos pais, porém o terceiro foi sem sombra de dúvida, para nós, o mais especial.
As pessoas, a meteorologia, a métrica perfeita do nosso número mágico, o local, os amiguinhos dele, com as gargalhadas e gritos de que são feitos, a sombra da despedida, os preparativos do espaço com direito a vertigens e tremeliques da M, a experiência adquirida em anos anteriores, a saga da máquina das bolas de sabão, que só foi possível graças aos meus bons amigos "irlandeses", e que não sobreviveu ao final do dia para contar a história...

Tema: Balões de ar quente


Em termos de menu, as receitas do ano anterior funcionaram na perfeição, por isso voltei a aplicar a mesma dose e proporção: 
Cake pops, brownies, mousse de chocolate, cheesecake (este ano adicionei uma mini colher a cada copinho e funcionou muito melhor), bolo light de amêndoa.
Novidade: salada de fruta - saiu que nem ginjas!


Para a decoração. 
Candeeiros de papel transformados em balões de ar quente, bandeirolas de anos anteriores (feitos pela madrinha), tecido e dossel da IKEA, núvens de cartolina desenhadas por mim e cortadas pelo pai, globo da loja asiática mais próxima (e que ficou de lembrança para o amigo D (altamente apreciador de globos), flores do campo cedidas pela querida M. Caixa de madeira, mapa antigo da coleção do papá. Balão nº 3, lança confétis, serpentinas, balões de ar quente, acessórios photo booth, tudo daqui.



Caixinhas de pipocas de cartolina, muito mais simples de fazer do que parecem.
Bolo, obra da maravilhosa Susana Pinto.


Indicadores feitos com palitos de BBQ e cartolina.



No meio da desordem que eram os nossos dias de então, esforcei-me mesmo muito por lhe preparar um dia muito especial. No fim do dia valeu tudo a pena.
Era um menino feliz.
E eu não poderia desejar nada mais.

Pode seguir Sofias's Whispers através:
You can follow Sofias's Whispers on: 

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...