quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Primeira semana em Doha

Fez ontem uma semana que chegamos a Doha. 
A viagem correu bem, talvez se tivéssemos optado pelo voo diurno a experiência fosse um pouquinho melhor, pois teríamos conseguido dormir.
Mas tirando isso, e uns inesperados vômitos do Salvador, chegamos inteirinhos.

As mudanças não são novidade para mim, (muito menos para o Carlos), já passei por 4, todas elas na nossa velha Europa, e todas elas com os seus períodos de adaptação respectivos.
E para que não pensem que isto é sempre canja e muitos folhos, vou procurar mostrar as várias fases da lua.

1. Os meus primeiros 3 dias foram de uma ligeira depressão, uma sensação de profundo desenraizamento. O Qatar é um país desenvolvido no Médio Oriente, mas está a quilómetros de distância daquilo a que os meus olhos estavam habituados a ver, os meus ouvidos a ouvir, os meus pulmões a respirar, os meus sentidos a sentir.
O Carlos mostrava-me tudo aquilo que eu deveria saber para o meu dia-a-dia. A minha cabeça fervilhava com tantos processamentos, sítios novos, nomes difíceis de dizer (e memorizar), a dada altura dizia que sim a tudo, mas no dia seguinte não me lembrava de nada...

2. Tudo está a ser construído de raiz por aqui, para qualquer parte que se vá, para qualquer lugar que se olhe, há construção! 
Mega projectos de estradas, condomínios, novas áreas residenciais projectadas do zero, prédios de arquitectura modernista, metros, shoppings, túneis, estádios, parques, museus... 
O pó, o barulho, o trânsito devido a vias cortadas e a semáforos de espera demasiado longa, são portanto inevitáveis, ganhando uma proporção macro no meu caso, pois nos últimos tempos estava habituada a uma vida mais pacata, numa vila pequena onde respirava ar puro e podia fazer tudo a pé ou de bicicleta.
Tudo isto foi absolutamente maravilhoso numa fase muito particular da minha vida, mas agora tive que ligar o acelerador e estou a habituar-me ao novo ritmo.

3. A compreensão do inglês que se fala por estes lados envergonha-me, grande parte dos trabalhadores são indianos, paquistaneses, filipinos... e eu não os entendo de forma alguma.
Peço educadamente para repetirem, 1, 2, 3, 4, 5 vezes, e a partir daqui envergonho-me, abano a cabeça, dizendo que percebi, quando na verdade não percebi nada...

5. Acordar de manhã sem um propósito especial, sem ter as minhas rotinas, as minhas coisas por perto, os meus lugares... e um rapazinho exigente - também ele em adaptação - e com necessidades prementes colado a mim 24h/dia, é avassalador.
Ele tem sido o melhor dos meninos, mas também se tem mostrado mais desafiante do que o normal, aprender a lidar com a frustração de não conseguir fazer algo que já fazia bem, como por exemplo comunicar, é algo difícil para ele. Ao mesmo tempo o meu nível de paciência também não está no seu melhor, por isso não tenho sido a melhor mãe estes dias...

Se gosto de aqui estar? É o que todos me perguntam.
Adoro saber que estamos todos juntos, que vamos todos viver algo único, marcante e inesquecível mas ter "o meu espaço" bem definido é essencial para o meu equilíbrio, por isso vou gostar muito mais quando encontrarmos a casa certa para nós e trouxermos as nossas coisas.
Viver em hotéis de forma prolongada é "estranho", e é estranho porque não consigo encontrar uma palavra mais adequada para o definir. É sentir que se tem a vida em standby, é sentir que se está à espera de alguma coisa que nunca mais chega, é viver em ansiedade e deixar passar os momentos especiais no meio dessa pausa, e disso eu não gosto, e isso, a parte consciente que habita em mim, não tem tido a capacidade de travar.

Estes estados de espirito não se devem reprimir, sentem-se, vivem-se e existem em nós, e não vale a pena omiti-los, sei por experiência própria, que fazem parte do processo de adaptação, porém também sei que não se podem alimentar durante muito tempo sob pena de tomarem totalmente conta de nós. Por isso ao 3º dia renasci, e decidi que estava na hora de explorar as novas possibilidades com o coração aberto.

E possibilidades é o que por aqui não falta. Com uma comunidade de expatriados que ronda os 80% dos habitantes do Qatar, existem 1001 coisas para explorar.
Felizmente o nível de vida da comunidade expatriada permite um acesso mais facilitado a coisas, locais e pessoas, mais longínquos nos seus países de origem.
A vida social que tive nesta última semana foi garantidamente superior à que teria em Portugal em 2 meses inteiros. Já deu para perceber que os convites aqui chegam de todas as partes e todos os dias.

O sentido de comunidade é espantoso, todos deixamos para trás família, casa e amigos, por isso todos temos as mesmas necessidades - encontrar novos amigos - para nós e para os nossos filhos - fazer deles a nossa família emprestada.
Ouvir todas as dicas de quem já cá está há mais tempo. Ir conhecendo os cantos e recantos da cidade, através dos olhos deles, para depois filtrar com os nossos.

Doha, obrigada por nos acolheres.
Com as dificuldades e facilidades com que te vamos percorrer, estamos ansiosos por te conhecer melhor.


Pode seguir Sofias's Whispers através:
You can follow Sofias's Whispers on: 

2 comentários:

  1. Que bom Sofia!! Fico muito contente que te estejas a adaptar e continues a escrever, nao deve ser nada fácil mas é mesmo uma experiencia única e com certez ha-de valer a pena. Um beijinho grande

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Vale sempre a pena quando a alma não é pequena :)
      Beijinho, querida Lúcia.
      Obrigada pela companhia.
      Sofia

      Eliminar

Thank you so much for your visit, and for taking the time to leave me a comment.
It is always a pleasure to hear from my readers, and it really makes my day!
Sofia
xxx


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...